Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz.
E depois as palavras dos discursos aparecem deitadas em papéis,
E depois as palavras dos discursos aparecem deitadas em papéis,
são pintadas a tinta de impressão – e por essa via entram na imortalidade do Verbo.
A palavra é a erva fresca e verde que cobre os dentes do pântano.
Daí que seja urgente mondar as palavras para que a sementeira se mude em seara.
A palavra é a erva fresca e verde que cobre os dentes do pântano.
Daí que seja urgente mondar as palavras para que a sementeira se mude em seara.
Daí que as palavras sejam instrumento de morte – ou de salvação.
Daí que a palavra só valha o que valer o silêncio do acto.
Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve.
Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve.
O silêncio escuta, examina, observa, pesa e analisa.
O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão.
José Saramago (1922-2010)
Nobel da Literatura (1998)
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