Amores líquidos…
Um título, que por si próprio
Faz entrar
Na modernidade dos tempos
E recordar os amores sólidos,
Feitos de puro diamante,
Resistentes e luminosos,
Românticos por natureza…
Os tais amores...
Sólidos,
Belos e quase extintos…
Surgem então, nesta modernidade decadente,
Os tais amores líquidos…
Tão líquidos
Quanto a água que colhemos na palma das mãos,
Que bebemos e nos refresca por escassos momentos,
Que se vai por entre os dedos,
Mais rápido que o pedaço de tempo de frescura…
Tão frágeis quanto uma taça de cristal
Que ao mais pequeno embate se parte em pedaços
Impossíveis de Unir outra vez…
Convivemos lado a lado com esses
Amores líquidos, amores corrosivos…
Amores de ocasião,
que corroem os que nasceram da autenticidade…
A corrosão dos amores líquidos
Inundou os tempos da modernidade !
Qual surrealismo!
Aparecem os amores virtuais,
Amores criados em redes,
Sem a solidez do contacto,
Sem a transparência da voz
E do sentimento que ela projecta,
Sem os olhares recíprocos,
Não toldados pelas interferências virtuais…
Amores líquidos
Que se conhecem numa certa ocasião,
E nas ausências das ocasiões que os geraram,
Se mantêm virtualmente conectados,
Com uma cegueira cada vez maior,
Que os impossibilita de ver o Íntimo de si próprios,
E o Universo ao seu redor…
Tudo o que foi belo e sólido é verdadeiramente esquecido…
E, nesta modernidade inquietante,
As relações amorosas e familiares sólidas
São destronadas da rocha
Que lhes deu origem,
Da rocha talhada artisticamente
Pelos ventos dos tempos
Que sopraram mensagens de segurança
E de sustentação humanista…
Saberemos ainda o que é o verdadeiro humanismo?
Ou será que já o confundimos
Com as cortesias lânguidas, envenenadas,
Que se transformam em amores líquidos
Transportadores de venenos emocionais
com sabor a mel adulterado,
Que se espalham nos núcleos das famílias,
Dos amigos e
Dos amores
Talhados inicialmente em diamante puro…
Ariam